Piauí pode ser pioneiro na proibição de agrotóxico que mata abelhas
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- Categoria: Agora 40graus
- Publicado: Segunda, 10 Junho 2019 08:43
- Escrito por Redação
O Piauí deve proibir o uso de agrotóxicos à base de neonicotinóides em todo seu território, caso projeto de lei apresentado pelo deputado Estadual Ziza Carvalho (PT) em sessão plenária na Assembeia Legislativa do Estado (Alepi) seja aprovado.
O texto foi encaminhado para análise das Comissões Técnicas da Alepi na última quarta-feira (5). Ziza Carvalho alerta que abelhas estão morrendo por conta do uso da substância inseticida. O deputado cita que as abelhas são as principais polinizadoras dos ecossistemas do planeta e seu principal “inimigo” são os agrotóxicos a base de neonicotinóides.
“Os principais inimigos das abelhas são os agrotóxicos neonicotinoides, uma classe de inseticidas derivados da nicotina, como por exemplo o Clotianidina, Imidaclorid e o Tiametoxam. A diferença para os outros venenos é que ele tem a capacidade de se espalhar por todas as partes da planta: flores, ramos, raízes e até o néctar e pólen. Eles são usados em diversas culturas como de algodão, milho, soja, arroz e batata”, justifica o projeto.
O deputado disse que o projeto é mais preventivo e que uma das prioridades é garantir o sucesso da produção de mel orgânico do Estado, que é um dos maiores exportadores do produto do país. Ziza Carvalho conta que no Brasil já há vários casos registrados de mortandade de abelhas por agrotóxicos, principalmente à base de neonicotinoides.
Foto: Ascom
O projeto de lei destaca, ainda, que a quantidade do agrotóxico necessária para causar a morte das abelhas é “incrivelmente pequena”. “Os neonicotinóides são 10 mil vezes mais potentes que o DDT. Basta que as abelhas sejam expostas a 5 nanogramas para que a metade delas venha a morrer. Assim como as abelhas, borboletas, mariposas, besouros e outros polinizadores que se alimentam das flores de espécies domesticadas pelo ser humano podem, ao que parece, absorver veneno em quantidade suficiente para comprometer sua sobrevivência”, ressalta o texto.
Piauí seria pioneiro
Caso o projeto de lei do deputado Ziza Carvalho seja aprovado, o Piauí se tornará pioneiro na proibição do uso de agrotóxicos com neonicotinóides no Brasil. A doutora em Zootecnia pela Universidade Federal do Ceará e pesquisadora da Empraba, Fábia de Mello Pereira, defende a aprovação do texto e afirma que a questão é “muito preocupante”.
“Em vários países da Europa já está proibido o uso dessa substância como defensivo agrícola. No Brasil a gente tem lutado muito contra isso. É muito usado, principalmente, na produção de soja. Temos que barrar mesmo a todo custo o uso desse inseticida. Se aprovado, o Piauí sairia na frente e daria um exemplo para todo Brasil”, analisa a pesquisadora.
A doutora Fábia ressalta que, além das mortes das abelhas, o Piauí pode ter prejuízo econômico na exportação de mel orgânico, caso o uso do defensor agrícola não seja proibido.
Foto: imagens gratuitas/pixabay
“O mel é o terceiro produto na pauta de exportação no Piauí. Em 2018 o Piauí arrecadou mais de U$13 milhões só com a exportação do mel. 80% deste mel é comercializado como orgânico(...) Se houver uso indiscriminado por parte dos agricultores o próprio vento pode levar esse agrotóxico para dentro das colmeias ou quando as abelhas forem visitar as flores onde foram aplicados os agrotóxicos elas também levam a substância para dentro das colmeias contaminando o mel. E aí nós teríamos uma perda dessa certificação de orgânico. Seria importante que a gente começasse a trabalhar para evitar essa contaminação do mel”, explica.
A pesquisadora ressalta que este tipo de contaminação ainda é apenas uma preocupação de pesquisadores e o que o problema não é constatado no Piauí.
Audiência
Para debater o assunto, uma audiência pública proposta pela Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Acompanhamento de Fenômenos Naturais será realizada na Assembleia Legislativa do Estado.
A reunião vai discutir a utilização de agrotóxicos no Piauí e contará com representantes das instituições de ensino superior UFPI e UESPI, a Secretária Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos e demais representantes de órgãos ambientais.
A data da audiência ainda será marcada.
Izabella Pimentel