Campanha da Fraternidade de 2020 trata sobre os cuidados com a vida
- Detalhes
- Categoria: Acontecimentos & Eventos
- Publicado: Quinta, 27 Fevereiro 2020 09:00
- Escrito por Redação
A escola de samba Unidos do Viradouro é a campeã do Grupo Especial do carnaval do Rio de Janeiro de 2020. Este é o segundo título da agremiação, que foi a segunda a entrar no sambódromo na madrugada de domingo (23) para segunda-feira (24). O samba-enredo da vencedora foi "Viradouro de alma lavada".
O tema escolhido pela escola e assinado pelos carnavalescos Tarcísio Zanon e Marcus Ferreira exaltou as Ganhadeiras, mulheres de fibra e descendentes de escravas que lutaram para construir o Brasil.
Desde o início da apuração lutando pelas primeiras posições, a Viradouro deixou a Grande Rio, uma das principais concorrentes escapar no quesito Comissão de Frente, terceiro a ser lido pelos jurados. No entanto, na reta final, em Evolução, penúltima nota, a escola assumiu a liderança e não saiu mais de lá.
Além da Viradouro, Grande Rio (2ª colocada), Mocidade Independente de Padre Miguel (3ª), Beija-Flor de Nilópolis (4ª), Salgueiro (5ª) e Mangueira (6ª) se apresentam no desfile das campeãs no próximo sábado (28).
Na última e penúltima colocação, as escolas União da Ilha do Governador e Estácio de Sá foram rebaixadas para a Série A, o equivalente à segunda divisão ou Grupo de Acesso do carnaval carioca.
Sobre a apuração
As escolas acompanharam a apuração na Praça da Apoteose, na tarde de hoje (26). A ordem dos quesitos lidos foi: Fantasia, Samba-Enredo, Comissão de Frente, Enredo, Alegorias e Adereços, Bateria, Mestre-Sala e Porta-Bandeira, Evolução e, por fim, Harmonia.
As avaliações, decimais e de 9.0 a 10, foram feitas por cinco jurados em cada quesito, tendo sido descartadas as maiores e menores notas, enquanto o critério de desempate escolhido pela Liga Independente das Escolas de Samba do Rio (Liesa) foi Harmonia, e o segundo Evolução.
Desde o início entre as primeiras, Viradouro, Grande Rio e Beija-Flor seguiram firmes na liderança até o quesito Enredo, em que a escola de Caxias se isolou.
Em Bateria, quando havia se aproximado da Grande Rio, a Mocidade Independente de Padre Miguel, tradicionalmente reconhecida neste quesito, perdeu pontos e não conseguiu alcançar a então líder.
Já na penúltima categoria avaliada, Evolução, a Grande Rio não recebeu qualquer nota 10 e perdeu o primeiro lugar para a Viradouro, que acabou conquistando o título.
Fonte: r7
O abstrato e o lúdico deram o tom da Sapucaí em sua segunda e última noite de desfiles. As escolas que apostaram nessa pegada e se destacaram foram a Vila Isabel, o Salgueiro e a Beija-Flor, com enredos inusitados e bem executados. As críticas políticas e sociais, que vieram mais fortes no primeiro dia, ficaram em segundo plano desta vez, exceto pela sátira ao presidente Jair Bolsonaro na apresentação da São Clemente, com o humorista Marcelo Adnet fazendo até flexões em uma das alegorias. Também diferentemente do domingo, houve poucos incidentes com carros alegóricos ou evolução.
Ainda no início da noite, a Unidos de Vila Isabel arrebatou o público contando uma história sobre a criação de Brasília (que completa 60 anos em 2020) bem diferente da que se lê nos livros, através de uma visão mítica. A cidade teria sido fruto de uma visão do curumim (menino), transmitida pela jaçanã (ave). A lenda une os povos de todas as regiões do país, que foram representadas no desfile de forma luxuosa e competente.
A Vila se destacou pelo carro abre-alas com mais de 60 metros de extensão, representando a viagem onírica da criação da capital, pela inovação nas baianas vestidas de índias e pelas alas coreografadas, como a que simbolizava o fandango sulista. O último carro fez jus à historiografia sobre a cidade e homenageou os arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, que efetivamente idealizaram sua arquitetura e urbanismo modernos.
Já a Acadêmicos do Salgueiro transformou a Sapucaí num grande picadeiro de circo no terceiro desfile da noite, com um enredo sobre Benjamin de Oliveira, o primeiro palhaço negro brasileiro. Ele far ia 150 anos em 2020. A escola apostou em tons fortes de vermelho, dourado e azul e em tecidos como a camurça para manter o desfile no tema. Apresentou carros, fantasias, maquiagens e sapatos que esbanjavam detalhes e brilhos.
As alegorias luxuosas e altas, porém, tiveram um preço. Puxadores tiveram dificuldade em manter o ritmo de dois tripés com grandes elefantes de pelúcia, o que causou um buraco entre as alas e uma falha na evolução. A comissão de frente interpretou muito bem uma coreografia sobre como Benjamin conheceu e entrou para o circo ao fugir de casa aos 12 anos, em 1882, em Pará de Minas (MG). Truques de mágica surpreenderam o público -Benjamin deitou na cama como menino e acordou como palhaço adulto.
A Beija-Flor de Nilópolis também fechou a noite com um desfile grandioso e impactante, como prometido, se credenciando a disputar seu 15° título. Alegorias ricas em detalhes fizeram a escola reviver seus áureos Carnavais. O enredo foi "Se essa rua fosse minha", contando a história dos caminhos percorridos pelo homem por meio de lendas e mitos sobre estradas, vias e ruas, até desembocar na avenida Marquês de Sapucaí.
A comissão de frente sobre gangues de rua usando uma estética estilo "Mad Max" se destacou, com carros e motos como alegorias. Jojô Todynho com os peitos à mostra foi outra sensação no desfile, representando Xica, rainha do Tijuco. O ator Edson Celulari desta vez veio no chão, sem tocar na bateria.
Primeira a desfilar, a São Clemente usou o humor para criticar os políticos em geral e um deles em particular: Jair Bolsonaro (sem partido). A cultura malandra dos brasileiros como um todo também foi alvo da escola. O desfile foi fraco em fantasias e alegorias, mas mostrou um discurso de peso com o enredo "O conto do vigário". Teve bateria vestida de laranja, terraplanismo, fake news, mensagens estridentes como "Leonardo DiCaprio BOTOU FOGO na AMAZÔNIA!!!" e até o humorista Marcelo Adnet vestido de Bolsonaro.
A Mocidade surpreendeu pouco, mas segurou a plateia com um samba forte cantado também por mulheres. "É sua voz que amordaça a opressão", dizia a música, que homenageou Elza Soares desfilando em carne e osso no último carro. Trouxe temas como machismo e racismo. Já a Unidos da Tijuca, que prometia um desfile com muitas surpresas, repetiu a velha fórmula do carnavalesco Paulo Barros, introduzida com o carro do DNA de 2004. O enredo sobre arquitetura foi de fácil compreensão, mas não empolgou a avenida por falta de novidades.
Na noite de domingo (23) se destacaram a Viradouro, a Grande Rio e a Portela, que levantaram a plateia com enredos sobre raízes da cultura popular. A apuração, que decidirá a campeã do grupo especial em 2020, acontecerá na tarde desta quarta (26).
Fonte: FolhaPress
Misturar fé e Carnaval nem sempre dá samba. Não para grupos religiosos que vêm aumentando decibéis contra o que veem como cortejos despudorados na hora de vilipendiar seu credo.
A grita mais recente partiu do IPCO (Instituto Plínio Corrêa de Oliveira), de católicos que homenageiam, em seu nome, o fundador do ultraconservador TFP (Tradição, Família e Propriedade).
Em abaixo-assinado, o IPCO pede "não ao samba da Mangueira que blasfema contra Cristo". Não há folia, nos últimos anos, "em que a Face Sagrada de Jesus não seja ultrajada, sempre em nome da 'liberdade de expressão'", diz o texto.
Não foram os únicos aborrecidos com "A Verdade Vos Fará Livre", enredo de 2020 da escola de samba carioca.
Um dos maiores portais evangélicos, o Gospel Prime, chegou a publicar quatro meses atrás que a Mangueira abraçaria a Teologia da Libertação, "que busca desconstruir as doutrinas cristãs".
Amplificado nos anos 1970, o movimento latino-americano incorporou à Igreja Católica discursos de justiça social e ganhou o rótulo de esquerdista.
Um de seus expoentes, o teólogo Leonardo Boff, vem mostrando entusiasmo com o "Jesus da Gente" da verde-e-rosa, com "rosto negro, sangue índio, corpo de mulher".
Seria um jeito de enfiar "a visão de Karl Marx" no sambódromo, com um filho de Deus que "não é um libertador espiritual, mas um revolucionário que incentivou o uso político da igreja".
Fora a provocação barata ao presidente Jair Messias Bolsonaro, reclama o Gospel Prime. Diz o tema mangueirense: "Favela, pega a visão/ Não tem futuro sem partilha/ Nem messias de arma na mão".
Para o IPCO, "a pretexto de exaltar as pessoas mais humildes", a Mangueira "conspurca a figura do Homem-Deus".
A petição deles "não passou nem a quantidade de seguidores que a gente tem", ironiza o carnavalesco Leandro Vieira. Só a conta da escola no Instagram tem 240 mil pessoas.
Vieira, que tem as palavras Deus e família tatuadas, diz que a pressão de religiosos não o fará recuar. Seu Jesus será interpretado por pessoas como o ator Humberto Carrão e o pastor Henrique Vieira, um evangélico progressista. Os sambistas Nelson Sargento e Alcione virão como José e Maria.
"A figura de Jesus foi historicamente domesticada para atender a interesses de poder", afirma. "Em nome de Jesus, já queimaram mulheres, torturaram indígenas. Num Brasil onde políticos se declaram terrivelmente cristãos [alusão a falas de Bolsonaro e sua ministra Damares Alves], Cristo foi transformado
neste fiador de uma política que muitas vezes incita a violência."
Em janeiro, a Arquidiocese do Rio enviou uma carta à Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba), que organiza o Carnaval da cidade, para se dizer preocupada com eventuais ofensas à religião.
A Mangueira não é a primeira agremiação acusada por conservadores cristãos de achincalhar a imagem divina.
Em 2019, a bancada evangélica acusou a Gaviões da Fiel de intolerância religiosa. O desfile do grêmio paulistano trouxe um duelo em que Satanás aparenta vencer Jesus.
A Beija-Flor protagonizou 30 anos antes o mais emblemático embate do gênero.
A cúpula católica do Rio conseguiu liminar na Justiça para proibir a alegoria de um Cristo Redentor em farrapos, tal qual um mendigo.
A escultura acabou entrando coberta com plástico preto e a faixa: "Mesmo proibido, olhai por nós".
Para Pedro Luis Barreto Litwincuk, o pastor Pedrão, da Comunidade Batista do Rio, vale lembrar que, para muitos fiéis, não se trata de expressão cultural, "mas uma falta de respeito com o Deus encarnado, Jesus".
Sim, somos influenciados pela iconografia eurocêntrica "que coloca Jesus como loiro de olhos azuis, e não como um palestino".
A questão, contudo, "não é a imagem dele em ser índio, negro, loiro ou japonês, mas o limite do respeito pela pessoa que ele foi", diz.
Pedrão resgata uma passagem bíblica, do Livro de Isaías, que diz que o filho de Deus era despido de "boa aparência", sem "beleza nem formosura".
Contudo, existe "o tabu, o preconceito e a expectativa de como ele era", afirma. "O sentimento é de tristeza por desrespeitar a imagem de uma pessoa querida. Se alguém quiser zoar com a foto da sua mãe, você não ficará feliz."
E nem um pouco contente ficou a Arquidiocese do Rio com várias representações de Jesus ao longo dos anos.
Além da já citada versão indigente de 1989, outras deram azia à Igreja Católica.
Leandro Vieira lembra da decisão da Mangueira, em 2017, vetar uma de suas alegorias mais marcantes do ano: "Santo e Orixá", que trazia Cristo de um lado, e do outro o orixá que, para umbandistas, fez o mundo.
A Arquidiocese tem um acordo com a Liesa: todo Carnaval, seu pessoal vistoria os barracões das agremiações antes dos desfiles. Se algo incomodar, sugere que fique de fora.
Vieira conta que, naquele ano, não mostrou de antemão a escultura sincretista. No Desfile das Campeãs, a Mangueira não repetiu a criação que incomodou a cúpula católica.
"A Arquidiocese pediu pra Liesa não autorizar a volta desse elemento cenográfico", diz. "Em nome do bom relacionamento com a Igreja", segundo ele, escolas costumam acatar ingerências do tipo.
O desconforto religioso pode virar caso de polícia. Em 2000, a Polícia Civil confiscou da Unidos da Tijuca um painel com a Nossa Senhora dos Navegantes e, o carnavalesco Chico Spinosa foi acusado de vilipendiar um objeto de culto religioso.
"Acabei saindo de camburão do barracão e indo pra 4ª DP, com ameaça de um processo do clero do Rio", ele lembra.
Decisão da Unidos: melhor não levar a santa ao sambódromo.
A Beija-Flor tem histórico de quiproquós com cristãos. Em 2002, deu um jeito de esconder entre passistas uma representação de Nossa Senhora Aparecida —de novo, para não contrariar o arcebispado local.
No ano seguinte, mudou em cima hora uma coreografia na qual Cristo e Satanás trocam tiros nas ruas, e uma bala acerta uma menina de rua.
Até Olavo de Carvalho, que anos depois viraria guru do bolsonarismo, criticou. Os dois ícones religiosos, escreveu na coluna que tinha n'O Globo, "eram nivelados como igualmente responsáveis pela violência
carioca. Não é preciso perguntar se mudou o carnaval ou mudamos nós".
Outra da agremiação, esta de 2005: Jesus açoitado por passistas fantasiados de soldados romanos. Ante novo protesto do clero carioca, a Beija-Flor preferiu não encenar a tortura na avenida.
Seis anos depois, nova encrenca com católicos: ao homenagear o religiosíssimo Roberto Carlos, a escola bolou um carro alegórico com imagens de Jesus, Nossa Senhora e anjos. Nesta ocasião, não cedeu à pressão do episcopado católico.
O historiador Luiz Antônio Simas lembra que a Estácio de Sá foi campeã no grupo de acesso em 2019 com enredo sobre um Jesus negro, e que já nos anos 1970 a Arrastão de Cascadura carnavalizava os jesuítas.
Em 1976, para celebrar a ialorixá baiana Mãe Menininha do Gantois, a Mocidade foi consultá-la antes.
"Ela viu nos jogos dos búzios e só autorizou com a condição que a bateria toda raspasse a cabeça. Isso foi polêmico demais. Disseram que nem todas as coisas deram certo no desfile porque a escola não jogou os cabelos raspados no mar, como prometido à Mãe Menininha."
Fonte: Folha de S. Paulo