A renomada revista científica de medicina The Lancet publicou um editorial, na quinta-feira (24), alertando sobre o risco à saúde mundial causado pelas bets e jogos de azar.
Na avaliação da comissão de especialistas que realizou um estudo sobre o tema, as apostas esportivas e os caça-níqueis virtuais deveriam ser desestimulados pelas autoridades públicas, assim acontece com o álcool e o cigarro. Por estarem disponíveis 24 horas por dia e a qualquer lugar, por meio do celular, elas representam maior potencial de vício.
"Produtos de apostas online são feitos para serem ágeis e intensos, características associadas a um risco maior para consumidores", argumenta a comissão.
A The Lancet estima que 80 milhões de adultos sofrem de algum transtorno ou dependência relacionado a jogos de azar e bets. Somente no ano passado, 46,2% dos adultos e 17,9% dos adolescentes se envolveram em algum tipo de jogo viciante, de alguma forma, em termos globais. Ao todo, mais de meio bilhão de pessoas já experimentaram esse tipo de entretenimento onde a prática é regularizada - em pelo menos 156 países, o equivalente a 80% do globo.
Entre os adolescentes, 10,3% se envolveram com jogos online em 2023 - o que chama atenção por ser uma atividade proibida para menores na maior parte dos países.
Ainda de acordo com o levantamento científico, cerca de 5,5% das mulheres e 11,9% dos homens em todo o mundo já experimentam qualquer jogo de risco. No entanto, as indústrias das bets e jogos de azar tem “rápida expansão, particularmente preocupante, nos países de baixo e médio rendimento, onde os quadros regulamentares são frequentemente fracos”, alerta a publicação.
Segundo o estudo, os principais riscos em relação aos jogos de azar são:
- Perda financeira;
- Problemas de saúde física e mental;
- Aumento da criminalidade;
- Ruptura de relacionamento e família;
- Violência doméstica;
- Risco aumentado de suicídio.
A comissão científica destaca que as principais vítimas da dependência, tanto dos jogos de azar quanto das bets, são os adolescentes.
O que fazer?
Para a revista, entidades que fazem parte da ONU (Organização das Nações Unidas), como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras entidades intergovernamentais, devem moldar estratégias e planos de trabalho para atuar em prol da saúde, mitigando os danos provocados por jogos.
Além disso, o editorial defende a criação de uma aliança internacional da sociedade civil, incluindo testemunhas que passaram por alguma dificuldade com o tema, investigadores e organizações profissionais.
Para os governos, a The Lancet aponta a necessidade de um órgão regulador independente que seja protegido da influência comercial, "priorizando a saúde pública em detrimento das motivações financeiras", conclui. SBTNews