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Piauí registra 21 casos de feminicídio no 1º semestre de 2024; delegada alerta sobre supostas mortes naturais

Denunciar qualquer tipo de agressão ou violência doméstica continua sendo a melhor maneira de combater o crime

O Piauí contabilizou 21 casos de feminicídio no primeiro semestre de 2024. Esse número corresponde a 75% do total registrado em todo o ano passado. A delegada Nathália Figueiredo, do Núcleo de Feminicídio do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), destaca que os dados são preocupantes e aponta a subnotificação desse crime com supostas mortes naturais ou acidentais.

"Esses números são preocupantes até mesmo quando comparamos com o ano passado, que teve 28 casos de feminicídio em todo o ano de 2023. Só neste ano, até o momento, já registramos 21 casos no estado do Piauí. Muitos casos que dão entrada como morte acidental, por morte natural, ao final, de fato aconteceu um feminicídio. Então casos que não são registrados como feminicídio passam despercebidos e acredito que sejam até subnotificados", afirmou.

Segundo Nathália Figueiredo, em Teresina, já ocorreram três casos em que as mortes das vítimas foram inicialmente registradas como acidentais ou naturais, mas a necropsia revelou marcas de violência nas mulheres.

"Estamos prestando mais atenção a essa questão. Em Teresina, tivemos três casos nos últimos dois meses em que as mortes foram registradas no Hospital Getúlio Vargas (HGV) e no Serviço de Verificação de Óbitos como naturais ou acidentais. Com o olhar atento dos técnicos de necropsia ou dos médicos patologistas, constatou-se que eram mortes de origem criminosa. Esses números aumentaram também por esse motivo, pois casos inicialmente classificados como acidentais, mas que são na verdade feminicídios, e são investigados como tal", pontuou.

 

Para enfrentar a subnotificação, diversos órgãos de segurança pública do país se reuniram na última semana para atualizar o protocolo de investigação de crimes de feminicídio.

"Já tínhamos um protocolo nacional de investigação e perícia nos crimes de feminicídio, mas é um crime que requer constante atualização. Na semana passada, estivemos em Brasília para realizar essa atualização, inclusive sobre a obrigatoriedade de uma análise na perspectiva de gênero em casos de morte de mulheres. Muitas vezes, uma morte não é inicialmente classificada como feminicídio, mas quando analisada sob a perspectiva de gênero, configura-se como tal, ou seja, a mulher morreu pelo fato de ser mulher. Também foi incluída a perspectiva das mulheres trans, sendo um protocolo que servirá como guia para a perícia criminal e a investigação", acrescentou.

A delegada reforça que denunciar qualquer tipo de agressão ou violência doméstica continua sendo a melhor maneira de combater o crime.

"Sempre insisto que o feminicídio ocorre porque não se deu a devida atenção às outras formas de violência, como a física, moral, patrimonial, sexual e a violência doméstica familiar, que tem a característica da progressão. Se não denunciamos, se não colocamos um fim a um relacionamento abusivo, essas agressões podem progredir e culminar no feminicídio", concluiu.