Em novo dia de protestos, as paralisações em rodovias pelo país caíram para cinco estados nesta quinta-feira (9), segundo o Ministério da Infraestrutura. Pela manhã, eram ao menos 15 estados com bloqueios.
O trânsito está liberado nos estados de Rio Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Rondônia, Pará e Roraima, com manutenção apenas de pontos de fiscalização a veículos de cargas pela Polícia Rodoviária Federal.
Entre 8h e 11h, foram liberados corredores logísticos essenciais na BR-116 e BR-101 na Bahia, BR-101 em Sergipe, BR-101 em Pernambuco e a BR-116 e BR-392 no Rio Grande do Sul.
Os protestos começaram um dia após os atos de raiz golpista convocados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Não há apoio formal de entidades da categoria, e os motoristas mobilizados são alinhados politicamente ao governo ou ligados ao agronegócio.
Os bloqueios começaram na quarta-feira (8) de manhã com focos em Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo, e expandiu para 16 estados até a madrugada de quinta. Os caminhoneiros dizem que a manifestação continua até a meia noite de hoje.
Em Santa Catarina, a PRF afirmou que até às 6h30, havia bloqueio em 18 pontos, atingindo praticamente todas as regiões do estado. O número caiu para 13 por volta das 9h50. Segundo o Sindipetro-SC (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Santa Catarina), a distribuição de combustíveis continua sendo afetada.
Em Minas Gerais, a principal paralisação ocorreu na BR-381, no trecho que liga Belo Horizonte a São Paulo, no município de Igarapé. As pistas foram completamente fechadas pelos caminhoneiros às 8h20, conforme comunicado da PRF.
Às 11h, a PRF informou que o trânsito no local começava a ser liberado. A concessionária da rodovia informou que a fila de veículos no sentido Belo Horizonte/São Paulo chegou a 5 quilômetros. No trajeto contrário, houve engarrafamento de 7 quilômetros.
Na BR-040, que liga o Rio de Janeiro a Brasília, passando por Minas Gerais, há bloqueio total dos caminhoneiros no município de João Pinheiro, no sentido Distrito Federal, segundo a concessionária da via. A fila de veículos chega a 1 quilômetro.
A PRF informou ainda haver bloqueio na BR-262 que liga a capital ao Triângulo Mineiro. A interrupção do tráfego ocorre em Juatuba, também na Grande Belo Horizonte.
Às 8h30, corredores logísticos que são considerados essenciais para o escoamento de cargas, como BR-040 em Minas Gerais, BR-116 e BR-040 no Rio de Janeiro, BR-101 no Espírito Santo, BR-376 no Paraná e BR-153 em Goiás foram liberadas pela Polícia Rodoviária Federal.
A pasta ainda afirma que não há mais pontos de interdição de pistas na malha rodoviária federal, salvo protesto de grupos indígenas na BR-174 em Roraima.
Em São Paulo, há registro de bloqueios nas rodovias Dutra e Régis Bittencourt.
No Paraná, a movimentação é baixa no porto de Paranaguá, mas por um movimento de mercado não relacionado à paralisação dos caminhoneiros, segundo a Portos do Paraná, empresa pública que administra o local.
O pátio tinha movimento baixo na manhã desta quinta-feira (9), sem bloqueios registrados até o momento, com 599 caminhões em viagem ao porto. Na quarta-feira, 337 caminhões passaram pelo pátio.
Na noite de quarta (8), Bolsonaro pediu a aliados que dialoguem com a categoria para liberar as rodovias. Em áudio, o presidente pediu a desmobilização, afirmando que o movimento prejudica a economia.
"Fala para os caminhoneiros aí que [eles] são nossos aliados, mas esses bloqueios aí atrapalham a nossa economia. Isso provoca desabastecimento, inflação, prejudica todo mundo, em especial os mais pobres. Então, dá um toque nos caras aí, se for possível, para liberar, tá ok? Para a gente seguir a normalidade", diz Bolsonaro.
Aliados do presidente temem que as manifestações prejudiquem o governo caso os efeitos econômicos da paralisação se espalhem.
Na noite de quarta, um grupo chegou a bloquear o quilômetro 148 da rodovia Anhanguera, no sentido da capital paulista, em Limeira (SP). As vias foram liberadas na manhã desta quinta.
Segundo o Ministério da Infraestrutura, os prostestos "não se limitam às demandas ligadas à categoria". As principais pautas dos caminhoneiros hoje são preço do combustível e piso mínimo do frete. "Não há coordenação de qualquer entidade setorial do transporte rodoviário de cargas", afirmou a pasta. Entidades de caminhoneiros corroboram essa posição.
"Não tem pauta caminhoneira na mobilização, é movimento ideológico", diz Joelmis Correia, do Movimento GBN (Galera da Boleia da Normatização Pró-Caminhoneiro). Segundo ele, há "neutralidade da categoria", para que cada motorista decida se quer protestar em apoio ao governo ou não.
Na véspera dos atos bolsonaristas, o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão, que está foragido, publicou um vídeo nas redes sociais convocando manifestantes ao protesto em Brasília. Segundo motoristas ouvidos pela reportagem, ele tem alto poder de mobilização na categoria.
Trovão defendeu o impeachment de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e desafiou o ministro Alexandre de Moraes a prendê-lo.
Moraes decretou a prisão do caminhoneiro na sexta-feira (3). Ele é acusado de promover a incitação de atos violentos contra o Congresso Nacional e o STF.
Fonte: Folhapress