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Categoria: Entrevista e Vídeos
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Publicado: Quarta, 10 Fevereiro 2021 08:46
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Escrito por Redação
Parece que faz muito tempo. E talvez faça mesmo -uma vez que 2020, há quem diga, não teve só 12 meses e ainda está longe de acabar. Desde o início da pandemia do novo coronavírus, a percepção dos brasileiros sobre o que os atormenta nessa quarentena sem fim e o que é importante em suas vidas vem mudando.
De acordo com uma pesquisa, realizada em dezembro com 1.234 entrevistados, o percentual dos que lá no início do período de isolamento social, em abril, diziam acreditar que o mundo iria mudar após a pandemia era de 87%. Para 50% dos ouvidos, àquela altura, essa mudança seria para melhor.
Quando indagados qual era a expectativa deles, em dezembro, sobre o futuro, esses índices caíram para 83% e 46%, respectivamente.
No começo, 57% preocupavam-se mais com os pais e 33% com o trabalho. Em dezembro esses índices caíram para 46% e 27%, respectivamente.
Quando comparado com o início da pandemia, os receios diminuíram de intensidade, mas não acabaram. A preocupação com os pais continuou a encabeçar alista, mas sofreu uma queda. A única preocupação que cresceu ao longo desses meses diz respeito às decisões dos governantes, que passou a ocupar o segundo lugar.
Entre as três esferas de governo, o desempenho do governo federal é o que mais causa preocupações entre os participantes do levantamento.
Apesar da queda da maioria das preocupações, conforme os meses passam, mas não a pandemia, a intensidade de outros sentimentos negativos vai se tornando maior. A calma e a alegria viram sua força diminuir mais do que aumentar.
No entanto, o "mergulho" ocasionado por esse período de isolamento social também parece ter ampliado a percepção de responsabilidade e de solidariedade dentre os entrevistados: 49% afirmaram que se sentem mais responsáveis, 46% se sentem mais conscientes e 42% mais solidários passados esses meses todos.
A pesquisa foi realizada por iniciativa de três empresas: Studio Ideias, Pepita e [ EM BRANCO ], e nasceu de um levantamento prévio, qualitativo, realizado em bril. Naquele mês, 40 pessoas começaram a ser entrevistadas, processo que se repetiu durante dez semanas.
Os resultados deram origem a uma plataforma (quemseremos.com.br), um game para autorreflexão desenvolvido em parceria com o jornal Folha de S.Paulo (quemseremos.folha.uol.com.br) a uma série de conversas e palestras que serão realizadas ao longo do ano e à pesquisa quantitativa.
"Quando olham para o tempo [de duração da pandemia], as pessoas se perguntam 'o que estou fazendo da minha vida?' e, então, começamos a olhar para o norte de uma forma diferente", diz Camila Holpert, da Studio Ideias.
A própria ideia do game se baseia numa possível mudança de atitude ante a vida e os problemas. "Criamos esse caminho [de perguntas], no game, para ser também um caminho de reflexão", diz Julio de Santi, da Pepita.
O levantamento, realizado em dezembro, também apontou que as pessoas estão revendo o que é mais importante e o que estamos fazendo com o nosso tempo, percepção que muda de acordo com diferentes grupos sociais.
As mulheres, por exemplo, apontam um desejo maior que os homens de dedicar tempo àquilo que traz felicidade. Também foram elas que se sentiram mais esgotadas neste momento entre os participantes (51% das mulheres, ante a 35% dos homens).
"Como vamos lidar com esse fato [pandemia] é tanto uma escolha individual como coletiva", diz Luciana Branco, da Em Branco. "É uma questão de perguntar 'quem sou eu' e 'como vou me colocar no mundo'".
"A pandemia mostou que as pessoas não dividem os sentimentos em bloco. Tudo acontece ao mesmo tempo", afirma Camila Holpert.
A pesquisa também explicita a rejeição do presente: a maioria dos participantes, se pudesse, saltaria esses tempos. Entre os ouvidos, 42% afirmaram que gostariam de voltar ao passado, 34% disseram que preferiam pular logo para o futuro, e apenas 23% disseram que ficariam mesmo no presente.
Para de Santi, essas respostas apontam para um problema, um possível desejo de fuga da realidade cansativa da pandemia. "Os únicos responsáveis por nossos sentimentos somos nós mesmos", diz.
Fonte: Folhapress